Para estigmatizar tal cientista natural como um idealista é tão insensato e inapropriado como é inapropriado (e prejudicial para a revolução) envergonhar publicamente o camponês analfabeto e oprimido que reza para Deus pela chuva por chama-lo de aliado ideológico da ordem burocrática da nobreza aterrada, um ideólogo da reação. Mas um padre – essa é uma questão diferente. E não algum patético padre de vilarejo que compartilha com o camponês suas superstições ingênuas, mas um padre educado que sabe Latim e lê Tomás de Aquino, e talvez até mesmo Kant – um padre do status de Berdiaev – ele é o inimigo profissional do materialismo e revolução, o parasita que se alimenta da ignorância e superstição.
Isso não significa, afinal, que é necessário estigmatizar um povo religioso, tanto que é humanamente inapropriado (e prejudicial para a revolução) envergonhar publicamente um trabalhador oprimido que reza a qualquer deus ou orixá para que seu baixo salário o permita pagar suas contas, nem mesmo que o consideremos um ideólogo da reação. Mas um padre, pai ou mãe de santo, a questão é diferente. E não fala-se aqui de um padre, pastor ou pai de santo de bairros populares que compartilha fielmente das mesmas crenças e superstições ingênuas dos moradores, mas um padre, pai de santo ou pastor educado que compreende a essência dos fenômenos dos acontecimentos e das contradições que se manifestam, estes são inimigos profissionais do materialismo dialético e da revolução, são esses os parasitas que se alimentam da ignorância e da superstição.
Porém, há de se reconhecer que o capitalismo se reproduz de diversas formas, da grande produção à pequena produção, não apenas de mercadorias, mas também de costumes, de superestruturas mínimas e nocivas. Essa pequena reprodução se manifesta diretamente no que expressamos em frases, imagens, ideias e sutilezas que manifestamos ao longo do dia a dia.